A mala de emergência.

Há muito tempo eu não acordava na madrugada para escrever. Desta vez, não consegui e levantei porque há tempos perco o sono por pensar demais.

"A catraca gira, a fila anda, vai um vem 18, beijo me liga, perdeu playboy", são as frases corriqueiras que nos dizem para que nos sintamos melhores. Querem nos mostrar que há uma infinidade de pessoas lá fora para amar. Mas não é bem assim. Amar não é isso. Lógico que há casos que sim, essas tais frases são realidade. Mas as categorizo em pessoas que fizeram más escolhas ou que brincaram com a realidade de sentimentos alheios.

É como se pensar nesses jargões nos jogassem baldes de água gelada. Nós maneamos com a cabeça dizendo sim, quando queremos um deserto imenso só pra gritar um sonoro NÃO. Isso não alivia os sentimentos pelas perdas, mas é preciso extravasar.

As vezes, as pessoas tem a tendencia de pensar na vida afetiva como algo que, se não der certo, ainda será possível sair e procurar outra pessoa. Como uma comida que pode ser variada, a escolha de uma nova marca de chiclete, de um novo panetone para o Natal, ou as dezenas de coisas que temos um poder trivial de escolher mudar.

Mas é nesse milésimo de segundo que a gente pensa: "Sinto falta daquele sorriso, sinto falta do tal defeito ou sinto mais falta ainda de ter que recomeçar e criar novos hábitos. De ter que achar alguém que entenda das piadas, entenda de história da arte para debater porque tal quadro é barroco, que adore um vestido x e que dê significado a colares de pérolas." Ao mesmo tempo, a tampa do poço é: A INSEGURANÇA. Se falhou uma vez, a propensão é falhar de novo? Será que sirvo para testes - teste de recomeçar, teste do se vai dar certo...

A gente não consegue dizer esses detalhes porque tudo está passando em câmera lenta dentro da nossa cabeça e não na dos outros. Ninguém vai entender. Ninguém entende SEU medo de falhar, até que a mesma pessoa falhe. Tudo isso, é aquilo que se projeta pela eternidade. Se torna um amor não correspondido. Então você vive, mas deixa de lado um espaço pronto. Como uma mala de emergência. Se chover, você terá guarda-chuva. Se esfriar, você terá um agasalho, se tiver fome, você terá comida... É um desejo inconsciente de reviver, É como dizer: "Vou até ali, mas volto logo caso você precise de mim" e realmente esperar que esse dia chegue.

Pela estatística da vida, esse dia sempre chega. "O mundo dá voltas, o mundo é um ovo, coisas do destino, tudo o que vai, volta, o que se planta, se colhe...". Ai cabe apenas uma resposta: Vale a pena?

Será que você já não terá usado todo o estoque da mala? É hora de partir pra outra ou dar uma chance ao velho amor?

Por enquanto, acredito apenas em chances, sejam elas para novos ou velhos amores. O coração sabe dar a resposta na hora que vier.